• Nunes conta detalhes do dia do primeiro Brasileiro do Flamengo
  • Ídolo comenta jogo polêmico de 1981: ‘Reinaldo chora muito’
  • Camisa 9 histórico manda recado a Gabigol: ‘O Flamengo precisa dele’

O Flamengo entra em campo neste domingo contra o Atlético-MG, no Maracanã, pelo jogo de ida da decisão da Copa do Brasil de 2024. É o primeiro jogo de um melhor de dois para saber quem levantará a taça do segundo mais importante torneio brasileiro. Os dois times já venceram a competição em outras oportunidades. O Rubro-Negro chega pela 10ª vez à decisão, é o recordista. Luta pelo seu quinto título. Venceu em 1990, 2006, 2013 e 2021. É importante dizer que o clube carioca está em sua terceira final consecutiva.

O Galo, por sua vez, está em sua quarta decisão de Copa do Brasil. Chegou em 2014, quando se sagrou campeão pela primeira vez ao derrotar o Cruzeiro, em 2016 foi vice para o Grêmio e em 2021 conquistou o bicampeonato. Assim como os dois times já estiveram nesse cenário de decisão pelo torneio em outras oportunidades, da mesma forma o destino colocou mais uma vez Flamengo e Atlético-MG frente a frente disputando uma final de competição nacional.

Brasileirão 1980 eterno

Embora tenha ocorrido mais recentemente pela Supercopa do Brasil, que tornou o Galo campeão pela primeira vez do torneio ao vencer por 8 a 7 nas penalidades máximas após um empate em 2 a 2 no tempo normal, o embate mais famoso entre os dois foi há mais tempo. Há exatos 44 anos, as duas equipes protagonizaram uma das maiores decisões de Campeonato Brasileiro em sua história. Não somente pelos dois elencos, que contavam com Zico, Nunes, Raul, Leandro de um lado, e Reinaldo, Éder Aleixo, Toninho Cerezo, João Leite e Palhinha do outro.

Mas também por tudo que aconteceu nos dois jogos, no Mineirão e no Maracanã. Portanto, para contar um pouco essa história o SDA conversou com um dos maiores camisa 9 do Flamengo em todos os tempos. O artilheiro das decisões, Nunes, que foi quem decidiu a parada para o Rubro-Negro naquele campeonato. Com a memória boa, o ex-jogador relembrou detalhes daqueles dias que antecederam os jogos que mudariam para sempre o clássico entre os dois times.

– Primeiro lugar, são duas grandes equipes do futebol brasileiro. Os dois times chegaram à final do Campeonato Brasileiro de 1980, eu considero um dos maiores clássicos do futebol. Os dois fizeram uma grande campanha antes daquela decisão, o Galo passou pelo Inter na semifinal e nós pelo Coritiba.. Chegamos na final em dois jogos – disse.

Primeiro jogo no Mineirão

Os times entraram em campo no dia 28 de maio de 1980 para começar a decidir o Brasileirão daquele ano. Em um Mineirão lotado, Nunes relembra que o jogo foi especial. Como se tratava de duas grandes equipes, o jogo foi equilibrado e decidido em um detalhe ruim para um dos maiores ídolos da história rubro-negra. A falha de Júnior foi determinante para que os mineiros saíssem com a vantagem de Belo Horizonte.

– O primeiro jogo em Belo Horizonte, muito movimentado, muito brigado, com os dois times fazendo jogadas perigosas, tanto de um lado, quanto do outro. Qualquer equipe poderia marcar gols. Mas como havia muito equilíbrio, os detalhes fizeram a diferença. O Júnior teve aquela infelicidade de perder aquela bola para o Reinaldo. Ou invés de driblar para a lateral, driblou para dentro e o Reinaldo botou o corpo, ficou de frente para o Raul e marcou o gol da vitória. Nós perdemos para o Atlético-MG lá no Mineirão – relembrou.

Nunes fez questão de falar sobre os bastidores após a derrota na capital mineira. O ex-centroavante revelou que ao chegar no vestiário o clima era dos melhores. Leve e com os jogadores rubro-negros conversando de forma tranquila como um jogo qualquer. Não parecia que haviam perdido para uma grande equipe e com jogadores de Seleção Brasileira. Nunes revelou um diálogo curioso.

– Aconteceu um fato curioso depois do final do jogo. Perdemos e chegamos no vestiário felizes, conversando, contando histórias. O Raul foi o último a chegar. O Raul viu aquela alegria e perguntou: Poxa acabamos de perder o jogo e estão todos assim, felizes?” O Júnior falou: “Po, velho, você acha que vamos perder para o Atlético-MG, dentro do Maracanã, diante da nossa torcida?” O Raul pensou e disse: “Realmente, tem fundamento”. – risos.

Segundo jogo no Maracanã

Depois do revés no Mineirão, o elenco rubro-negro foi liberado para as suas casas, já que o segundo jogo seria apenas no domingo, no Maracanã. Nunes preferiu ficar na concentração desde quinta-feira para se preparar melhor, não somente pelo corpo, mas para a mente também. A torcida no Rio de Janeiro, conforme informações do ex-centroavante, era toda para o Flamengo. Nunes acredita nessa ideia por conta de uma visita inusitada que recebeu na concentração. A tal visita ainda revelou um sonho profético ao artilheiro.

– Viemos embora para o Rio e nem pra casa eu fui. Fiquei concentrado desde quinta-feira para a decisão do Brasileiro. No domingo, recebemos na concentração o Francisco Horta, presidente do Fluminense. Para nós, foi uma coisa de outro mundo. O presidente do Fluminense dando força para o Flamengo ser campeão. Dar uma palavra positiva, um apoio para gente. Ele tinha consciência que o nosso time era fantástico. No ônibus, ele chegou para mim e disse que tinha sonhado que eu ia fazer dois gols e o Zico um – disse.

Muitos craques em campo ajudaram

O jogo portanto, foi cercado de lances perigosos, os dois times tiveram chances de marcar. Pelo placar, 3 a 2, já prova que foi um jogo de qualidade, aberto e com emoção até o fim. Para Nunes a qualidade daquele duelo se fava pela rivalidade, que já estava crescendo e pela quantidade de jogadores de nível de Seleção Brasileira. Como citado acima, alguns dos jogadores se encontravam nas convocações. Nunes fez questão de lembrar ainda que os outros times tinham jogadores de alto nível.

– Foi um jogo maravilhoso. Tinha que ter muita disciplina tática, muita determinação, o Atlético tinha um time maravilhoso, assim como o Flamengo também tinha. Aliás, naquela época todos os times eram bons, todos tinham ídolos e craques. A personalidade, o trabalho feito e a confiança que tivemos naquele ano valeu muito a pena. Então fomos campeões brasileiros e é um título que falamos até hoje – relembra.

Gols da partida

Assim como o sonho profético de Francisco Horta, Nunes abriu o placar no início do jogo. Em um contra-ataque, Zico lançou para o camisa 9, que tocou na saída de João Leite. Depois do empate de Reinaldo, o Flamengo foi para cima de novo e em uma jogada de bate rebate, Zico fez o 2 a 1. Embora tenha tido uma dose de sorte no gol, era um momento de pressão com muitos jogadores do Flamengo na frente da área do Galo. Nunes afirma que era jogada treinada por Cláudio Coutinho nos treinamentos.

– Eram jogadas que treinávamos sempre aqui na Gávea, por isso que fazíamos sempre os dois toques e o coletivo, justamente para que a gente pudesse se aperfeiçoar, respeitar a disciplina tática do treinador e o Coutinho foi muito feliz. Ele treinava esse grupo, dava treinos específicos, fazia atividade de fundamento. Nós chegávamos no jogo e fazíamos o que estávamos acostumados – revelou.

O gol do título

O gol que ficou marcado para sempre na vida de Nunes, embora do artilheiro tenha feito gols em outras decisões, foi a jogada do primeiro título brasileiro do Flamengo. Isso porque é um lance comentado até hoje. Não somente pelo drible no lateral Silvestre, mas pela finalização e até mesmo por toda jogada. Ela começa com um ótimo lançamento de Andrade. Nunes domina e tenta cruzar, mas a bola volta nele. O restante ele mesmo contou.

– Jogada rápida, lançamento do Andrade, ele sabia que eu tinha uma explosão muito forte, pois eu treinava essas jogadas de contra-ataque. Eu sempre tive uma força física muito grande. A ideia quando eu recebi a bola era cruzar na área para o Zico ou pro Tita, que estavam entrando. Mas quando a bola chegou, ela bateu no Silvestre e voltou pra mim. Quando ela voltou pra mim, assumi a responsabilidade. Passei pra perna direita e o Silvestre levantou a perna esquerda. Na segunda vez que ele levantou, eu driblei para cima da perna de apoio. Ele não teve como se recuperar do drible – relembra e completa:

– Coloquei o corpo na frente e qualquer toque dentro da área era um pênalti e aí o Zico fazia. A vantagem era minha. Eu tive a felicidade de finalizar, pois eu treinava muito isso. O João Leite saiu achando que eu ia cruzar, mas quando ele viu que eu não iria cruzar ele voltou. Dei um toque por cima. Um gol consciente, que deu o título ao clube, o meu primeiro título como jogador de futebol!

Rivalidade explode em 1981

No ano seguinte, Flamengo e Atlético-MG protagonizaram mais três jogos pela Copa Libertadores de 1981. Naquela época, os times do mesmo país ficavam no mesmo grupo. Os dois times empataram em 2 a 2 no Mineirão e no Maracanã, o que acirrava ainda mais a rivalidade entre as equipes. Foi então marcado um jogo desempate no Serra Dourada, em Goiânia. Quem vencesse iria para a segunda fase da competição continental. Foi aí que a rivalidade entre os clubes explodiu.

Os atleticanos reclamam até hoje da atuação do árbitro José Roberto Wright. O juiz da partida expulsou quatro jogadores do time mineiro, que se recusou a ficar em campo e o jogo acabou em W.O (3 a 0) para o Flamengo, que foi a outra fase e seria campeão do torneio posteriormente. Nunes relembra esta partida e discorda dos jogadores do Atlético-MG. Para ele, Writght não teve culpa de nada.

– Não, o jogo estava correndo normal, era uma quarta-feira no Serra Dourada, a disputa era para ver que iria para a próxima fase. Como eu sempre falo, é um Flamengo e Atlético-MG, não é um clássico qualquer. Nesse dia, o jogo estava muito violento. Lembro bem, pois eu estava ao lado quando o Wright chamou os dois capitães. Falou quem fizer a primeira falta por trás, eu vou colocar pra fora. Ele sentiu que o clima estava ficando esquisito e ele tinha que controlar. Na primeira oportunidade, Reinaldo deu por trás no Zico. Acabou expulso – disse.

‘O Reinaldo chora muito’

Nunes completou dizendo que após a primeira expulsão, o clima esquentou de vez. Os próprios jogadores do Flamengo pressionaram o árbitro por conta do desrespeito por parte dos atleticanos. Houve até ameaça por parte dos rubro-negros tamanho era os xingamentos dos jogadores que restaram do Galo após o primeiro cartão vermelho.

– Começou o falatório que estava roubando pra gente, que isso, que aquilo. Mas toda vez que passavam perto do árbitro eles xingavam de tudo que é nome. Dizendo que ele era ladrão, que o dinheiro dele estava na tesouraria do Flamengo. E a gente escutando tudo aquilo. Nós mesmos falamos com ele que ele precisava colocar moral no jogo, senão iríamos xingar ele também. Foi isso que aconteceu. Não teve nenhum lance que ele tenha beneficiado a gente. A verdade é que o Reinaldo chora muito. É meu amigo, mas chora muito – diverte-se.

Nunes confia no penta da Copa do Brasil

Sobre a decisão de 2024, Nunes é puro otimismo. Embora diga que o Flamengo tem totais condições de vencer os dois jogos, o Artilheiro das Decisões deixa claro que Flamengo e Atlético-MG é um clássico diferente. O ex-centroavante exalta os dois elencos e espera um dos principais jogos da temporada de 2024:

– É um clássico que o Brasil vai parar pra ver, pois se trata de um Flamengo e Atlético, não é um clássico qualquer. São dois times bons, que chegaram à decisão da Copa do Brasil. O Flamengo precisa aproveitar o momento certo aqui no Maracanã para fazer a diferença e conquistar a taça lá em Belo Horizonte. O Flamengo tem time para ser campeão lá em Belo Horizonte tranquilamente.

Flamengo e Atlético-MG tem dois dois principais elencos do país. Por conta disso, Nunes, acostumado a muitas decisões e jogos dessa magnitude, deu dicas de como os jogadores do Rubro-Negro podem se destacar nos dois jogos, tanto no Rio de Janeiro, quando em Belo Horizonte. Nunes apontou ainda o principal ponto forte do Galo.

Os jogadores precisam entender que decisão não tem volta. Então, é se preparar, ter consciência do jogo, são dois jogos e o Flamengo tem que saber aproveitar as oportunidades do jogo, muita disciplina tática. O Atlético-MG  é um time que tem um contra-ataque muito veloz, a defesa precisa ficar bem articulada em relação a isso. Defesa é pra defender, meio-campo é para articular as jogadas e o ataque é pra fazer gol. Penso dessa maneira e é assim que temos que fazer. O Flamengo tem um plantel à altura de ganhar tanto aqui, quanto em Belo Horizonte – afirma.

Nunes sobre Gabigol: ‘O Flamengo precisa dele’

Um dos maiores camisas 9 da história do Flamengo, Nunes tem muita propriedade para falar sobre centroavante. Neste momento, Pedro tem a camisa que foi de João Danado. Mas como o centroavante está machucado, outro ídolo recente do clube terá a missão de colocar as bolas na rede do Galo nessa decisão. Gabigol, um dos maiores artilheiros do clube, está em sua pior temporada. Mesmo assim, tem a confiança de Nunes.

O Gabigol já provou que é nessas horas que o grande jogador aparece, ele precisa estar motivado para fazer aquilo que se espera dele, que ele sabe fazer dentro de campo que é jogar futebol. Jogar com simplicidade, ser objetivo, entender que o Flamengo precisa dele, que os companheiros precisam ajudar – afirmou.

O Artilheiro das Decisões rasga elogios ao jovem rubro-negro. Deixa claro ainda que é preciso não ouvir as críticas, entrar em campo com a cabeça tranquila e trazer o torcedor para perto dele novamente.

– Num jogo desse, ele tem que estar de cabeça tranquila. Jogar o que ele sabe, ele não desaprendeu de uma hora pra outra. É um excelente centroavante, já se tornou ídolo no Flamengo e ele tem que saber aproveitar esses momentos para trazer pra ele essa alegria de jogar, alegria de jogar perto da nação trazer a torcida para perto dele. Torcer para ele estar bem e decidir os jogos pra gente – finalizou.