• Clube chegou a liderar a competição com 14 pontos de vantagem
  • Foram quase sete meses com a taça nas mãos e fazendo festa
  • SDA procura personagens botafoguenses para explicar o inexplicável

O Botafogo iniciou o Campeonato Brasileiro de 2023 sob enorme desconfiança do torcedor alvinegro. Afinal, a equipe comandada pelo português Luis Castro sequer havia chegado entre os quatro primeiros do Campeonato Carioca. Chegou a perder um clássico para os reservas do Flamengo, em Brasília. Ou seja, nem os mais otimistas dos torcedores acreditavam que aquele time viria a disputar um dos torneios mais difíceis do planeta.

Depois de vencer a Taça Rio, um fim melancólico para um Estadual já esvaziado, a equipe botafoguense começou a preparação para o Brasileirão. A estreia foi contra o São Paulo, no Nilton Santos. Uma vitória simples que nem de longe animou os pouco mais de cinco mil torcedores que foram à casa do Glorioso assistir ao jogo. Mas mesmo assim, era um início bom para uma equipe tropeçara em agremiações pequenas no Estadual.

Na segunda partida, mais uma vitória consistente. Desta vez, contra o Bahia fora de casa. O triunfo sobre o Flamengo no terceiro jogo, por 3 a 2, jogando a maior parte do tempo com um jogador a menos foi, talvez, o ponto de partida para que o time batesse o recorde de pontos e vitórias no primeiro turno. Entretanto, jamais daria para saber que exatamente em um jogo contra o Flamengo as coisas, de fato, começariam a desandar.

O Site de Apostas foi atrás de ex-jogadores, torcedores e influencers, que viveram in loco todo essa Montanha Russa de emoções que foi o último Campeonato Brasileiro para o alvinegro. Vamos tentar explicar o inexplicável com pessoas que acompanham ou acompanharam o clube em algum momento dessa história.

Botafogo quase fora do Carioca

Embora tenha trocado de treinador ainda na reta final do Brasileirão do ano passado, a equipe entrou na temporada 2024 disposta a esquecer tudo o que passou em 2023. Com um time considerado bom, algumas peças foram chegando, como é o caso do goleiro John, do zagueiro Lucas Halter, além do atacante Jeffinho, repatriado pelo clube. Adryelson e Lucas Perri, símbolos da fase boa e ruim foram embora.

Entretanto, o que se viu foram os mesmo erros. Time apático, sem padrão, com o emocional comprometendo. Não havia mais tempo para perder. Tiago Nunes, pressionado, chegou a dizer que alguns atletas pediam para deixá-los fora por uma sequência de jogos por problemas emocionais. Isso não caiu bem internamente. Justamente após uma derrota de virada para o Vasco, o que complicou e deixou o time quase fora das semifinais do torneio.

Na estreia na Copa Libertadores, outro vacilo que lembrou 2023. Após marcar um gol no início contra o Aurora, em Cochabamba, na Bolívia, o time sofreu o empate o último lance do confronto. Assim, Tiago Nunes não resistiu e acabou demitido. Então, Fábio Matias, interino, dirigiu a equipe no jogo de volta. Nesta quarta-feira, o Botafogo goleou o time boliviano por 6 a 0 e se classificou para pegar o Red Bull Bragantino na próxima fase. Mas antes, neste sábado, o desafio é contra o Fluminense, no Maracanã e a vitória não basta para a classificação.

Sem técnico, os dirigentes ainda procuram no mercado um profissional que se enquadre no perfil. O SDA também pediu uma ajuda para os personagens da matéria. E todos foram unânimes: o novo técnico tem que abraçar o time e entenda que o momento é de recuperação emocional dos atletas.

Capitão de 95, Gottardo aponta falha no grupo

Quando se fala em títulos históricos para o Glorioso, não há como não citar dois em especial. Primeiro, o título do Carioca de 89, quando o gol de Maurício sobre o rival Flamengo tirou o clube da fila de 21 anos sem conquistar um troféu. O outro, o Campeonato Brasileiro de 1995. Além de históricos e inesquecíveis, os dois títulos têm em comum um nome: Wilson Gottardo. O zagueiro, inclusive, foi o capitão que ergueu o troféu nacional.

Ou seja, com todas essas credenciais de quem transitou pelo caminho das glórias, Gottardo deu o seu diagnóstico. O ex-zagueiro, então, creditou a queda de rendimento no fim do ano passado aos próprios jogadores. Segundo Gottardo, o grupo tinha experiência o suficiente para reagir às muitas trocas de treinadores.

– O time não reagiu às diversas trocas de treinadores durante o ano e ideia de jogo, isso foi o ponto fraco. O time mentalmente não reagiu. Eles tinham que adquirir essa reação entre eles. São jogadores que com a minutagem que tem, conseguem discernir as situações de jogo. Eles sabem o que rende o que não funciona. Faltou liderança, talvez um diálogo mais forte para procurar soluções junto com a comissão técnica – afirmou.

‘Duas ou três contratações fortes’

Ainda na linha de que o problema está no grupo, Wilson Gottardo, que já foi diretor do clube, acredita que daqui para frente os dirigentes precisam focar em contratações para fortalecer o plantel. O ex-zagueiro cita que isso também vai depender do perfil de treinador que o clube está buscando.

– Acredito que o Botafogo precisa de umas duas ou três contratações. Contratações que tragam benefício de grupo e de força de ações e decisões. Isso tem muito a ver também com o treinador que será contratado. Precisa ver o perfil dele, o histórico. Isso é necessário, mas não somente isso. Precisa ver a personalidade. Hoje, taticamente, todos os treinadores sabem muita coisa, então você tem que ver no geral, o que virá e se ele atende a demanda do grupo. Isso que fala mais alto – revelou.

Na opinião de Gottardo, o Botafogo precisa avaliar um nome para comandar o time que tenha não somente um perfil de títulos ou experiência, mas um combo de qualidades. Ou seja, se seguir o padrão de nomes que vem acompanhando o clube desde o ano passado (foram seis profissionais nos últimos meses) o panorama não vai mudar:

– Sou meio resistente a maioria desses treinadores que tem por aí. Eu não vejo idade e não vejo os títulos. Eu vejo um todo, um combo. Pode ser um acadêmico ou só um ex-atleta que se preparou. Quando eu analiso, analiso a pessoa em si, e o atleta também percebe isso. Ás vezes o atleta entra em uma zona de conforto e quanto menos se expor, melhor pra ele. E com isso ninguém vence, só tem derrota. E acontece o que está acontecendo nesse carioca e aconteceu ano passado – disse.

‘Foi como queda de avião, nunca é um motivo só

A jornalista e escritora Aline Bordalo fala com propriedade sobre Botafogo. Dona do canal “Botafogonela”, Aline acompanhou de perto todos os passos do time em 2023. Por conta disso, escreveu o livro “Do céu ao Inferno, o inacreditável ano do Botafogo” contando a história de cada rodada daquele Brasileirão. O desfecho era para ser diferente, mas mesmo percebendo que a equipe havia perdido o prumo, seguiu com o projeto. Portanto, com riqueza de detalhes, Aline tirou a seguinte conclusão:

– Acompanhando tudo, acho que é igual a queda de avião. Nunca é um motivo só. Foram vários acontecimentos dentro e fora de campo. Algumas questões a gente pode falar como questões de vestiário, clima de oba oba. Isso atrapalhou muito, esse clima só o torcedor tem o direito de fazer. E mesmo assim, o torcedor do Botafogo não tem por característica fazer isso.

Vale lembrar que Aline Bordalo tem mais de duas décadas de carreira e em seu currículo o livro “1989: O Escolhido” a aproxima ainda mais da história do Glorioso. Por conta disso, a jornalista também aponta falhas no grupo fora de campo. Conforme informações da escritora, alguns jogadores entraram em conflito por conta do comportamento enquanto não estavam jogando.

– Muitos jogadores entraram nesse clima (oba oba), alguns relaxaram e isso é completamente natural. Outros jogadores começaram a curtir a noite, e foram cobrados. Ou seja, o grupo precisa ser unido e a saída do Luis Castro também contribuiu. Com a saída dele, o grupo ficou à deriva. Precisávamos de um técnico que resolvesse esse grupo e não tivemos – revela.

‘Se o Tiquinho quiser ficar, precisa provar’

A jornalista Aline Bordalo fez questão de traçar um perfil dos últimos treinadores que passaram pelo Botafogo para indicar um que se encaixe com o que o torcedor mais deseja no momento. Bruno Lage, Lúcio Flávio e, por último, Tiago Nunes são nomes que para Aline Bordalo não tinham o principal que o Glorioso necessitava: liderança.

– Eu nunca vi em minha carreira um técnico pedir demissão após perder um clássico. Não havia a menor pressão, os torcedores o apoiavam (Bruno Lage). Logo depois entrou o Lúcio Flávio, a cara do fracasso, não mandava em nada no vestiário. Nesse período, os jogadores começaram a se escalar por conta própria. Depois disso, chegou um Lúcio Flávio melhorado (Tiago Nunes). Não tinha comando nenhum também – dispara, para depois completar:

– O que a gente precisa agora é de um técnico que os jogadores olhem na beira do campo e o respeitem. Que tenham currículo e títulos na carreira e que saiba ler o jogo. O que vimos era que o adversário mudava no segundo tempo e o Botafogo sempre vinha igual. 

Aline Bordalo diz ainda que o time precisa esquecer o que aconteceu no ano passado e seguir em frente, algo que não vem acontecendo. Entretanto, a escritora demonstra um certo carinho com Tiquinho Soares, que foi o símbolo do Botafogo líder do Brasileirão, mas que caiu em desgraça juntamente com o grupo.

Aquele time do ano passado não existe mais. Porque os que ficam, trazem os resquícios do ano anterior. Como aconteceu em 2020, quando o clube foi rebaixado. O time só conseguiu algo quando não tinha mais nenhum remanescente. Mas alguns jogadores ainda estão lá e o Tiquinho, se quiser realmente ficar, vai ter que provar que ainda pode ser o ídolo que a torcida espera – finalizou.

‘Faltou um Felipe Melo no time’

O jornalista Waldir Luiz, mais de 50 anos de jornalismo, grande parte deles dedicado à cobertura do Botafogo. Waldir, inclusive, foi diretor de comunicação do clube. Além disso, no seu coração bate a estrela solitária. Outro personagem que deu o seu diagnóstico para o fracasso do time que encantou o Brasil por sete meses. Waldir cita as duas viradas que o time sofreu, a para o Palmeiras por 4 a 3 depois de estar vencendo por 3 a 0. E a do Grêmio, após estar com um placar favorável de 3 a 1.

– O que faltou depois desses dois jogos foi treinador. Porque, com todo respeito, o Lúcio Flávio não é um jogador de muitas conquistas. Quantas vezes se escondeu em decisões jogando pelo Botafogo. Como técnico, começou a tomar gol no final das partidas. Como contra o Palmeiras. Contra o Santos, tirou a velocidade do time nas laterais e tomou o gol por ali, contra o Coritiba, fez o gol com 51, não tem mais jogo, fura a bola – esbravejou.

O jornalista citou um jogador revelado pelo Flamengo e que hoje é capitão do Fluminense para exemplificar o tipo de atleta que o grupo botafoguense precisava naquele momento de 2023. Segundo Waldir Luiz, liderança foi algo que deixou muito a desejar dentro e fora de campo no Glorioso do Brasileirão do ano passado.

– Faltou liderança dentro e fora de campo. Um líder dentro de campo foi o que faltou para o Botafogo, isso sim. Um jogador tipo o Felipe Melo (Fluminense). O time do Botafogo é muito bonzinho, um time que reza e no campo se esconde. Não há ninguém que vá para a noite, não tem esse perfil no elenco – disse.

Jornalista faz ponderações para o futuro

A demissão de Tiago Nunes nas últimas semanas deixou um ponto de interrogação na cabeça do torcedor, mas um fio de esperança. Tanto é que as especulações em torno do nome do novo técnico inundam as mídias, principalmente as que cobrem o clube. Mais acima o nobre leitor viu as características traçadas pelo ex-jogador Wilson Gottardo e pela jornalista Aline Bordalo (Botafogonela). Para não fugir à regra, Waldir Luiz também fez questão de falar sobre o antigo treinador e traçar um perfil do próximo.

– A demissão do Tiago Nunes foi correta. Não tinha liderança, não tinha padrão tático, mexia mal e colocava o time para trás. Para ter um 2024 feliz, o Botafogo vai precisar de um treinador vitorioso, um treinador experiente e que tenha liderança. Dentro e fora de campo para conseguir tirar o Botafogo dessa fila – finalizou.

‘Uma série de coisas capitaneadas pela soberba’

Um torcedor apaixonado pelo Botafogo, que tem o poder de escolher o torcedor e não ser o escolhido. É assim que Zé Fogareiro se apresenta em diversas mídias sociais. Embora tenha todas as características de um influencer, ele rechaça um pouco a ideia. Não é difícil o ver dizendo que já está na “ativa” há muito tempo. Zé Fogareiro não somente torce, mas ouve outros torcedores botafoguenses e ouve as suas demandas. Assim, Zé detalha de forma precisa tudo que ocorreu no ano passado em sua opinião.

– Claro que o torcedor fica puto, falam comigo que foi casa de aposta. É lógico que eu jamais vou achar que foi isso. Então, o que bateu neste time foi a soberba do “já ganhamos”. Eles pensavam o seguinte: uma hora o Tiquinho vai acertar um chute e vai ganhar o jogo. E o tempo foi passando e nada de isso acontecer. Os deuses do futebol deram um empurrãozinho e começamos e levar gols no fim – disse, para depois completar:

– E no futebol, o negócio é confiança. O time foi perdendo a confiança, foi batendo desespero. Quando os caras viram, o caldo já havia entornado, não havia o que fazer. Eles fizeram uma série de cagadas. Demitiram técnico, bancaram outro…Alguns caras ficaram com medo, bateu uma frouxidão em outros. Foi uma série de cagadas conjuntas, mas todas capitaneadas pela soberba.

‘O momento é sentimental’

O perfil do novo treinador é algo que também mexe com Zé Fogareiro. Isso porque, como representante de muitos torcedores botafoguenses, o futuro depois de tudo que aconteceu deve ser tratado como o Botafogo precisa. Conforme a opinião do torcedor, muito mais do que tática e técnica, o Glorioso precisa de alguém que abrace o time. Um treinador que siga fazendo uma reformulação no time e mude o clima no vestiário.

– Nome de peso, mas acima da tática, um cara que abrace esse grupo, um cara que diga que ficará com eles até o final, que vai tirar eles dessa. O que não dá é um técnico que chegue e faça como o Tiago Nunes, tentar implantar sua tática. O momento não é disso, não é de estratégia. O momento é sentimental. Isso é muito mais importante. Está na cara que há uma reformulação, mas o vestiário ainda está ruim – revelou.

‘Sampaoli tem rejeição’

Nas últimas semanas, uma série de nomes de técnicos foram ventilados pela imprensa. Assim, em sua maioria, profissionais portugueses. Ou seja, há a possibilidade de o novo treinador ser alguém que jamais treinou o clube. Portanto, sobre os nomes, Zé Fogareiro deu a sua opinião e, com o conhecimento que tem com os torcedores do time, há apenas um nome listado que não agrada aos botafoguenses.

– Para o torcedor comum, e eu me considero um torcedor comum, todos esses portugueses são desconhecidos. O que a gente tem é leitura de matérias de jornais. Sabemos que o Rui Vitória é agressivo, perde vestiário, o Pedro Martins revelou o Tiquinho e o levou para o Olympiacos (Grécia), é um nome que agrada. O Carvalhal é um cara bom. O que tem rejeição é o Sampaoli, pelo passado recente. Pelo perfil do John Textor, acredito que deve ter o passaporte grená, deve ser um português o novo técnico do Botafogo – declarou.